O preço pago ao produtor pelo litro de leite teve crescimento em fevereiro. Esse é o terceiro mês consecutivo de alta. A notícia animadora para os criadores contrasta com dados menos positivos sobre a safra de grãos. As estimativas atualizadas apontam para uma produção menor na safra 2023/2024 em comparação com a safra anterior para todos os produtos monitorados: arroz, feijão, milho, soja e trigo. As informações são do Boletim Agropecuário de fevereiro, publicação mensal do Centro de Socioeconomia e Planejamento Agrícola (Epagri/Cepa).
A íntegra do Boletim está disponível nos sites da Epagri, do Observatório Agro Catarinense e da Secretaria de Estado da Agricultura e Pecuária (SAR).
De acordo com o levantamento mensal da Epagri/Cepa, em fevereiro os produtores catarinenses das principais regiões produtoras receberam, em média, R$ 2,15 pelo litro de leite. Um aumento de 4,8% em relação ao mês anterior, mas um decréscimo de aproximadamente 10% em relação ao mesmo mês de 2023.
Para o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Tabajara Marcondes, o aumento no preço do leite, nos últimos meses, pode estar sob influência de três fatores. O primeiro é a manutenção do consumo interno em patamares satisfatórios. O segundo é que depois de atingir o pico em dezembro, a produção tradicionalmente começa a cair até atingir o piso, geralmente, em abril. Por último, o fato de os preços, embora em crescimento, ainda estarem abaixo do praticado na maior parte do ano de 2023, o que abre espaço para aumento.
No mês de janeiro de 2024, as importações brasileiras de lácteos alcançaram 25,8 milhões de quilos. Essa quantidade é 4% menor do que a importada em dezembro de 2023 e 30,3% maior do que a importada em janeiro de 2023. A novidade é que as exportações cresceram e alcançaram 3,6 milhões de quilos, crescimentos de 38% e 54%, respectivamente, em relação às quantidades exportadas em dezembro de 2023 e janeiro de 2023. Esse é o maior valor exportado desde abril de 2022.
No Boletim de fevereiro houve a confirmação da redução da área cultivada com milho na primeira safra de 2023/2024 em Santa Catarina e da produtividade das lavouras. A redução da área deve ser de aproximadamente 6,7% e da produtividade de 5,2%, em ambos os casos na comparação com a safra anterior. O motivo da revisão das estimativas foram as condições climáticas do início da safra, quando o excesso de chuva atrasou o plantio, dificultou os tratos culturais, causou inundação de lavouras em desenvolvimento e perda de nutrientes do solo. Em termos de produção total, há uma diminuição prevista de mais de 300 mil toneladas na comparação com a safra anterior de Santa Catarina.
No Brasil, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimou em fevereiro que a produção de milho brasileira terá uma diminuição de 14% em relação à safra 2022/2023. Mesmo assim, os preços têm se mantido bem abaixo do registrado no começo do ano passado. Conforme levantamento da Epagri/Cepa, disponível no site do Observatório Agro Catarinense, a média recebida pela saca em janeiro de 2024 foi de R$ 58,68.
De acordo com o analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, Haroldo Elias, a tendência a médio prazo é de elevação dos preços no mercado interno. Isso porque o consumo do cereal está em elevação no Brasil (rações e etanol) e a menor produção em 2024 deve afetar o balanço entre oferta e demanda.
A safra de soja 2023/2024 também teve a estimativa de produção atualizada. Agora a previsão é que sejam produzidas 2,76 milhões de toneladas, um recuo estimado de 2,8%, em relação à safra anterior. Em 2024, o preço da soja em grão ao produtor registra uma forte queda. Nos últimos 30 dias houve uma retração superior a 10%. Em janeiro foram registradas as menores cotações desde 2020. Apesar da redução na safra brasileira, a Argentina terá uma colheita maior e a previsão é que a China, principal compradora, demande menos quantidade do produto, o que tem afetado os preços.
A safra catarinense de feijão (1ª safra) deve ter uma área plantada de 28,9 mil hectares, o que significa uma redução de 5,8% em relação à área cultivada na safra passada. Quanto à produtividade, que foi atualizada neste mês, espera-se uma redução em torno de 8,3%, o que deve resultar em uma produção 13,6% menor do que na safra anterior. Em fevereiro, a Conab publicou dados atualizados da safra nacional de feijão.
Estima-se uma safra total de 2,97 milhões de toneladas, o que representa uma redução de 2,1% em relação à safra anterior. Desde outubro do ano passado há uma trajetória ascendente dos preços recebidos pelos produtores de feijão. Contudo, entre os dois tipos de feijão mais cultivados em Santa Catarina, o feijão-preto tem alcançado preços melhores do que o feijão-carioca.
A estimativa atual da safra 2023/24 em Santa Catarina aponta para leve redução da área em relação à safra anterior. Até o momento estima-se também uma produtividade menor. Com isso, a produção estimada é de 1,24 milhão de toneladas de arroz em casca, 1,82% menor do que o registrado na safra passada. O ano de 2024 iniciou com preços elevados, mas com tendência de redução nos próximos meses em razão do início da colheita no Estado.
A primeira quinzena de fevereiro apresentou preço médio de R$114,14/sc de 50kg em Santa Catarina, o que representa uma variação de -1,03% em relação ao mês de janeiro, que foi o maior da safra. Esse comportamento é esperado pois o aumento da oferta interna, seja pelo avanço da colheita ou pela entrada do produto adquirido de outros estados ou do Mercosul, tem como resultado a redução dos preços.
A safra catarinense 2023/24 está estimada em 307,6 mil toneladas, o que significa uma redução de 36% na produção na comparação com a safra anterior. O resultado é decorrência da redução de 2% na área plantada e de 35% na produtividade, em relação à safra 2022/2023. Os preços médios recebidos pelos produtores catarinenses voltaram a subir neste início de ano e chegaram a R$ 64,89 a saca de 60 quilos. Contribuíram para o movimento altista verificado neste início de ano a diminuição da disponibilidade de trigo argentino para os importadores brasileiros e a baixa disponibilidade de trigo proveniente do mercado interno para panificação. Apesar do aumento em relação a dezembro, o valor permanece bem abaixo do registrado no mesmo mês de 2023.
A safra catarinense de alho 2023/2024 foi marcada pela ocorrência de eventos adversos, especialmente as fortes chuvas nos últimos meses de 2023, afetando drasticamente a produção, sendo que 40% das lavouras apresentaram condição ruim, 30% média e apenas 30% foram consideradas boas. Dessa forma, a produção total deve chegar a 7,37 mil toneladas, redução de 3,66% em relação à última estimativa de dezembro de 2023, que era de 7,65 mil toneladas.
O acompanhamento da safra 2023/24 da cebola em Santa Catarina, atualizado pela Epagri/Cepa no mês de janeiro, indicou que as perdas foram de aproximadamente 27,53% em relação à estimativa inicial da safra, que era de 551,5 mil toneladas. O principal motivo da redução foi o excesso de chuva. A estimativa atual é de que tenham sido colhidas 399 mil toneladas. Contudo, ainda não foram levantados os dados da perda pós-colheita. Sondagens iniciais indicam que a alta umidade e a ocorrência de doenças fúngicas de armazém devem diminuir, ainda mais, a oferta do produto.
O mercado da maçã em Santa Catarina, entre janeiro e fevereiro de 2024, com o final da comercialização de estoques da safra passada e baixa oferta devido ao atraso na colheita da safra atual, apresentou valorização nos preços. Em fevereiro, a expectativa da safra 2023/24 em relação à anterior é de redução de 11% na produção, sendo 13,6% nos Campos de Lages, 0,2% na região de Joaçaba e 2,6% na região de Curitibanos. Com isso, a produção total deve chegar a 495,7 mil toneladas.
Nas primeiras semanas de fevereiro, observaram-se altas nos preços do boi gordo na maioria dos estados analisados. Em Santa Catarina, o preço médio estadual da arroba bovina nesse período foi de R$ 238,72, alta de 1,0% em relação ao valor registrado no mês anterior. Esse movimento de recuperação nos preços vem sendo observado desde dezembro do ano passado. Contudo, apesar das recentes altas, quando se leva em consideração o valor recebido pelo produtor em fevereiro de 2023, verifica-se queda de 18,5% no período.
Em janeiro, Santa Catarina exportou 90,8 mil toneladas de carne de frango (in natura e industrializada), queda de18,0% em relação às exportações do mês anterior e de 4,8% na comparação com as de janeiro de 2023. As receitas foram de US$166,8 milhões, queda de 18,3% em relação às do mês anterior e de 21,1% na comparação com as de janeiro de 2023. Santa Catarina foi responsável por 24,9% das receitas geradas pelas exportações brasileiras de carne de frango em janeiro.
Santa Catarina exportou 54,1 mil toneladas de carne suína (in natura, industrializada e miúdos) em janeiro, queda de 13,7% em relação ao montante do mês anterior, mas alta de 8,3% na comparação com os embarques de janeiro de 2023. As receitas foram de US$ 116,7 milhões, queda de 15,4% na comparação com as do mês anterior e de 5,3% em relação às de janeiro de 2023. Santa Catarina foi responsável por 58,0% da quantidade e 60,3% das receitas das exportações brasileiras de carne suína do mês passado.
Escrita por: Marcionize Elis Bavaresco – Jornalista / Observatório Agro Catarinense (Edital Fapesc 04/22)
Fone: (48) 3665-5082 / E-mail: [email protected]
Mais informações e entrevistas: Tabajara Marcondes, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, (48) 3665-5089
Haroldo Elias, analista de Socioeconomia e Desenvolvimento Rural da Epagri/Cepa, (48) 3665-5074